* Schwarz und Weiß = Preto e Branco

domingo, 13 de dezembro de 2009

Ninguéns

As pulgas sonham com comprar um cão
E os ninguéns com deixar a pobreza.
Que em algum dia mágico a sorte chova de repente
Que chova a boa sorte a cântaros.
Mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca
Nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte,
Por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce
Ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida,

Fodidos e mal pagos.
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam supertições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal,
Aparecem nas páginas policiais da imprensa local.

Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os matam.

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